terça-feira, 15 de julho de 2014

Artigo

O day after da Copa

Emerson Linhares

O legado da Copa do Mundo de 2014, que se passou aqui no Brasil, entre tantos outros itens que não vou escrever agora neste texto, é o de que incutiu em minha pessoa uma visão mais abrangente sobre o futebol.

O esporte bretão faz e, ao mesmo tempo, não faz parte da minha vida há tempos. Pode ser dividido entre AF e DF (antes do futebol e depois do futebol).

Lembro que ainda criança via meu pai, aos domingos, assistir aos jogos do Botafogo na TV. Maracanã lotado. Lembro ainda de algumas vezes ele sair vestindo uma camisa verde. Era a camisa do Gama. Brasília, anos 70.

Lembro que eu colecionava cards com fotos de jogadores dos times brasileiros (brindes de chicletões da Ping Pong que faziam a alegria da criançada – foto ilustrativa abaixo).


Já não gostava de Zico – e aprendi seu nome por causa dos cards; nome pomposo: Arthur Antunes Coimbra – por causa do Botafogo. Por causa de meu pai. Admirava o time da estrela solitária. Coisa de criança.

E cresci admirando o Botafogo, mas cresci afastado do futebol. Vi a Copa de 82 e torci, alegre, até a final. Não lembro se chorei. Tinha 10 anos. Triste fiquei. Ali nascia minha admiração, também, pela seleção brasileira e por copas do mundo.

Essa outra fase, de assistir e acompanhar o futebol, sobretudo o Botafogo, nasceu há pouco, já adulto. Nasceu ainda da dificuldade de comunicação com amigos mais jovens. O futebol tem essa magia de entreter e municiar as conversas. Sabe nada sobre futebol? Vai ficar fora das interações com quem gosta e acompanha.

Mas deixemos histórias de minha vida e vamos ao legado para o “eu” torcedor: sai desse mundialito mais consciente de que existe uma manipulação para que exaltemos nossa seleção como a melhor do mundo sempre, de que vamos superar os obstáculos sem trabalho árduo e sem um comprometimento visando um objetivo único.

Achei que amigos exageravam quando diziam que era um time fabricado e que olhasse os exemplos de times da Europa, que se doam, são mais técnicos, mais compromissados.

Eu acho um absurdo um brasileiro torcer por outra seleção, mas hoje respeito o fato de que se pode admirar o futebol de outro país em detrimento do nosso porque somos e soamos falsos.

É chegado o momento de todo torcedor brasileiro fazer uma reflexão sobre o assunto. Não queremos heróis, queremos profissionais compromissados com um objetivo que é o de ganhar (heróis são os professores, os policiais militares, os garis, sem desmerecer outras categorias).

Futebol pode ter sim emoção, a do gol, a do grito de olé, a do “uhhhhhhh”, da bola na trave, do escanteio, do arremesso lateral até...

O legado dessa copa no Brasil, a Copa das Copas, Copa do Zueira, como queira, é que verei o futebol com outros olhos, sobretudo o alemão. Assistirei a partir de agora outros campeonatos, como o inglês, o italiano e o espanhol, e me “misturar” com aquelas torcidas vibrantes que tanto faltam no nosso Campeonato Brasileiro.

Para finalizar, jamais deixarei de torcer pela Seleção Brasileira, mas hoje defendo que não se pode viver simplesmente de marketing, de messias e ilusões.

Russia 2018, avante!


(Dedico esse artigo aos amigos Enaldo Segundo, Bruno Sérvulo, Breno Sérvulo, Kael e Victor Freire, Jean Carlos, Thiago Romero, Alexeiev Carneiro, Ismael Sousa, Clécio Christian, Apollo Balinha Júnior, Luciano Ricardo, Lenilson Freitas, Willian Robson e Allan Erick, Álesson Paiva, Odilan, Oliva Leite, Bonilha, André Lima, Alessandro Paiva, Adailton Júnior, Hugnelson, Alcimar Bispo)

Um comentário:

  1. Belo texto, durante essa copa vi muita besteira em relação a torcer por outra seleção, mas vi uma coisa interessante, uma imagem muito compartilhada onde mostrava a bandeira nacional e o escudo da CBF, e os dizeres: "Essa bandeira representa um país e essa representa uma empresa! Torcer por uma empresa não faz de ninguém um patriota." Como amante de futebol, não dá pra negar que estamos décadas de atraso em relação ao futebol europeu isso foi mostrado em campo, não ver que não quer! Um país onde pode-se dizer que monta uma seleção só com os jogadores que atuam no liga interna (como o Brasil) e de 23 jogadores apenas 3 atuam aqui, só não podia ter esse espirito guerreiro, respeito pela camisa, orgulho e vontade de vencer. Não culpo apenas os jogadores, mais toda cúpula da confederação que está acabando com a liga nacional como manchando a história da seleção mais vitoriosa do mundo. Não torço pelo Brasil, todos sabem disso, mais essa é minha humilde opinião para o que acontece e aconteceu a seleção brasileira nessa copa.

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