O day after da Copa
Emerson Linhares
O legado da
Copa do Mundo de 2014, que se passou aqui no Brasil, entre tantos outros itens
que não vou escrever agora neste texto, é o de que incutiu em minha pessoa uma
visão mais abrangente sobre o futebol.
O esporte
bretão faz e, ao mesmo tempo, não faz parte da minha vida há tempos. Pode ser
dividido entre AF e DF (antes do futebol e depois do futebol).
Lembro que
ainda criança via meu pai, aos domingos, assistir aos jogos do Botafogo na TV.
Maracanã lotado. Lembro ainda de algumas vezes ele sair vestindo uma camisa
verde. Era a camisa do Gama. Brasília, anos 70.
Lembro que eu
colecionava cards com fotos de
jogadores dos times brasileiros (brindes de chicletões da Ping Pong que faziam
a alegria da criançada – foto ilustrativa abaixo).
Já não
gostava de Zico – e aprendi seu nome por causa dos cards; nome pomposo: Arthur
Antunes Coimbra – por causa do Botafogo. Por causa de meu pai. Admirava o time
da estrela solitária. Coisa de criança.
E cresci
admirando o Botafogo, mas cresci afastado do futebol. Vi a Copa de 82 e torci,
alegre, até a final. Não lembro se chorei. Tinha 10 anos. Triste fiquei. Ali
nascia minha admiração, também, pela seleção brasileira e por copas do mundo.
Essa outra
fase, de assistir e acompanhar o futebol, sobretudo o Botafogo, nasceu há
pouco, já adulto. Nasceu ainda da dificuldade de comunicação com amigos mais
jovens. O futebol tem essa magia de entreter e municiar as conversas. Sabe nada
sobre futebol? Vai ficar fora das interações com quem gosta e acompanha.
Mas deixemos
histórias de minha vida e vamos ao legado para o “eu” torcedor: sai desse
mundialito mais consciente de que existe uma manipulação para que exaltemos
nossa seleção como a melhor do mundo sempre, de que vamos superar os obstáculos
sem trabalho árduo e sem um comprometimento visando um objetivo único.
Achei que
amigos exageravam quando diziam que era um time fabricado e que olhasse os
exemplos de times da Europa, que se doam, são mais técnicos, mais
compromissados.
Eu acho um
absurdo um brasileiro torcer por outra seleção, mas hoje respeito o fato de que
se pode admirar o futebol de outro país em detrimento do nosso porque somos e
soamos falsos.
É chegado o
momento de todo torcedor brasileiro fazer uma reflexão sobre o assunto. Não
queremos heróis, queremos profissionais compromissados com um objetivo que é o
de ganhar (heróis são os professores, os policiais militares, os garis, sem
desmerecer outras categorias).
Futebol
pode ter sim emoção, a do gol, a do grito de olé, a do “uhhhhhhh”, da bola na
trave, do escanteio, do arremesso lateral até...
O legado
dessa copa no Brasil, a Copa das Copas, Copa do Zueira, como queira, é que
verei o futebol com outros olhos, sobretudo o alemão. Assistirei a partir de
agora outros campeonatos, como o inglês, o italiano e o espanhol, e me “misturar”
com aquelas torcidas vibrantes que tanto faltam no nosso Campeonato Brasileiro.
Para finalizar, jamais deixarei de torcer pela Seleção Brasileira, mas hoje defendo que não se pode viver simplesmente de marketing, de messias e ilusões.
Russia 2018,
avante!
(Dedico esse artigo aos amigos Enaldo Segundo, Bruno Sérvulo, Breno
Sérvulo, Kael e Victor Freire, Jean Carlos, Thiago Romero, Alexeiev Carneiro,
Ismael Sousa, Clécio Christian, Apollo Balinha Júnior, Luciano Ricardo,
Lenilson Freitas, Willian Robson e Allan Erick, Álesson Paiva, Odilan, Oliva
Leite, Bonilha, André Lima, Alessandro Paiva, Adailton Júnior, Hugnelson, Alcimar Bispo)