ARTIGO
DE OPOSIÇÃO DESQUALIFICADA
Paulo Afonso Linhares
O instigante teólogo Leonardo Boff, em
reflexão recente publicada no Jornal do Brasil On Line, assevera que “o Zürcher
Zeitung, o maior jornal suíço, e pouco depois o Times diziam que o autor mais
lido hoje é Marx. Não só por estudiosos, mas por banqueiros e financistas
conscientes que querem saber por que seu sistema foi a falência e por que tem
tantas dificuldades em sair dele, se é que encontram uma saída que não
signifique mais sacrifício para a natureza (injustiça ecológica) e para a
humanidade já sofredora (injustiça social).” E complementa o teólogo de
reconhecidas luzes: “Sou cristão, teólogo e escritor. Marx nunca foi pai nem
padrinho da Teologia da Libertação que ajudei a formular. O atual
anticomunismo revela a anemia de
espírito e a pobreza de pensamento
que estão prevalecendo como
disfarce para esconder o desastre que significa a economia de mercado,
altamente predadora da natureza e agressora de todo tipo de direitos humanos e
agora numa crise da qual não sabem como sair.”
É com esta assertiva do teólogo Leonardo
Boff, posto que ligeira, mas, de inegável profundidade, que me encorajo a
discutir alguns aspectos da conjuntura política nacional, mormente, em face das
críticas lançada contra o governo Dilma Rousseff e ao partido desta, o PT. Com
efeito, em boa hora Boff livra o filósofo de Tréveris (Renânia-Palatinado,
Alemanha), de muitas responsabilidades sem sentido algum. Na verdade, as
pessoas, à direita, ao centro ou à esquerda, sempre querem botar palavras no
boca de Marx – para o bem ou para o mal -
que ele jamais pensou, ou ousou, em dizer.
Está na moda, hoje em dia, ser contra o PT,
Lula, Dilma e quejandos. Tudo, como se as mazelas destes Brasis em mais de
quinhentos anos de colonização europeia tivessem aí a sua única origem.
Bobagem. O nosso grave problema é que quem melhor reflete sobre a iníqua
estrutura social brasileira continua a ver a senzala a partir da casa-grande,
seja de direita, centro ou de esquerda, para usar essa rotulação anacrônica e
não menos ridícula. Todavia, fato é que a elite brasileira tem sido sempre
cruel, despreparada e mesquinha, nas diversas fases da construção de uma
identidade nacional. Tanto que o sociólogo Oliveira Vianna, posto que de
pendores ultradireitistas, afirmava, lá pelos anos ’30 do século XX, com muita
razão, que deveriam congelar o Brasil, antes que apodrecesse.
Com todas as críticas negativas ou bisonhas
que possa merecer, não há que negar que o ex-governador paulista José Serra tem
uma poderosa capacidade de analisar fatos da conjuntura política nacional. Com
muita razão, recentemente Serra irritou-se com seus companheiros de partido
(leia-se: Aécio Neves) pela oposição desqualificada que têm feito ao governo
Dilma. Ora, criticar a presidenta da República por um pernoite em Lisboa,
quando a comitiva presidencial brasileira sem deslocava da Suíça para Cuba,
parece uma questão de somenos. Uns idiotas até explicitam o valor da diária de
hotel param a acomodação presidencial: 26 mil reais. Ora, deveria a nossa
queridíssima presidenta Dilma ficar num hotel pulgueiro da Alfama ou noutro
sítio da velha Lisboa? Coisa nenhuma! A
chefe de Estado brasileira deveria ter acomodações compatíveis com sua
representatividade.
Com o perdão do meu amigo (e quase
compadre) Rinaldo Barros, com uma oposição medíocre que despreza questões
fundamentais da conjuntura, como insiste José Serra – em especial, as
dificuldades da economia – esse povo do PT tende a se perpetuar no poder. Salvo
se a poderosíssima casta judiciária, com a férrea mão barbosiana (nada do Ruy,
mas, do Joaquim...), quiser desigualar
os desiguais, para aprofundar as enormes desigualdades que grassam neste
país-continente, ademais de dar um novo e desconhecido rumo a este país, o que
parece ser uma péssima e arriscada possibilidade. Enfim, não se pode querer que
a História seja uma apanágio de medíocres e diletantes da política. O nosso
Brasil merece mais.
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